sexta-feira, 16 de março de 2012

OS QUE FRACASSAM AO TRIUNFAR



            
       OS QUE FRACASSAM AO TRIUNFAR

                              THEODIANO BASTOS


Amy Winehouse, a famosa cantora pop e o ex-diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional) Dominique Strauss-Kahn, 62 anos, são casos típicos dos que fracassam ao triunfar.

DSK, indiciado, preso e depois inocentado por crimes sexuais contra uma obscura camareira africana.
A suposta vítima, Ophelia Famotidina tem 32 anos, trabalha no hotel há três, é muçulmana e saiu da Guiné para trabalhar nos Estados Unidos. Ela é mãe solteira de uma filha, com quem mora no bairro do Bronx. A reviravolta no caso inocentou DSK.

“do ponto de vista midiático e político, Strauss-Kahn já foi julgado. E duramente condenado, impiedosamente”. Viciado em sexo este homem sofre de enfermidade da alma e precisa de tratamento.

“Ao chegar ao cume do sucesso, como acontece com tantos, não suportou: não tinha nascido para ser feliz. Então começou a se destruir correndo atrás das vozes mais sombrias”, disse Lia Luft no seu belo artigo em Veja 03/05/06.

VICIADOS EM SEXO

No filme “Shane” do diretor inglês Steve McQueen, o personagem Brandon é um viciado em sexo, mas não no fundo não gosta de sexo; é patologicamente dependente do sexo. O sexo não é praticado como forma de conexão com a parceira. Faz sexo todo dia num ritual de auto-humilhação e degradação; ele se odeia. Parece Dominique Strauss-Kahn... E como sofre a resignada esposa Anne Sinclair, uma jornalista famosa!!!

Freud no ensaio "Os arruinados pelo êxito", revela as causas psicológicas que levam uma pessoa a fracassar quando atinge o que sempre almejou na vida, pelo qual lutou a vida inteira. Por quê? “O trabalho psicanalítico ensina que as forças da consciência tornam enfermos certos indivíduos por causa do êxito, do mesmo modo que geralmente outros se enfermam por causa da privação, se encontram intimamente ligadas ao complexo de Édipo, à relação do indivíduo com seu pai e mãe, fonte também de nosso sentimento de culpa”. Pessimista, Freud não credita na capacidade humana de melhorar: “o homem envelhece, mas sua neurose não muda, antes se agrava”. Mas Karen Horney é otimista: “Os males que a mente causa, a mente cura”.
                    
                       Mas é o ódio e o desprezo por si mesmo a causa das tragédias: você não merece ser feliz, soa a voz do demônio interno, o lado sombrio, o segundo eu que deseja a própria destruição. É a auto-punição. São pessoas que se mostram incapazes de desfrutar deste êxito por causa da angústia na qual suas constantes atuações autodestrutivas o submergem, colocando em risco sua vida e traumaticamente fazendo com que tenham contato com a possibilidade da morte.
                       É que o lugar da frustração externa é assumido por uma frustração interna. O sofredor não se permite a felicidade: a frustração interna ordena-lhe que se aferre à frustração externa. Porque será que isso ocorre?
                    “Examinando o ódio a si próprio e a sua assoladora força, não podemos deixar de ver nele uma grande tragédia. Talvez, mesmo, a maior tragédia da mente humana. O homem, tentando alcançar o Infinito e o Absoluto, começa a destruir-se. Quando faz um pacto com o diabo, que lhe promete glórias, tem de ir para o inferno – o inferno que tem dentro de si mesmo”, diz Karen Horney.

                          José Nazar, psiquiatra e psicanalista carioca em seu artigo “Por quem morrem os filhos? (A Gazeta 11/08/06 p.3), diz: “Jovens vêm interrompendo suas vidas sem nenhuma razão aparente. Tudo é muito incompreensível e absurdo. Filhos estão morrendo antes dos pais. Por que esse desejo tão forte de morrer,? O que é esse gesto insólito de interrupção de uma vida? É um movimento de desespero que leva alguém a fazer mal contra si mesmo a despeito de seu querer consciente. Ninguém interrompe uma vida porque quer a não ser por um voto de morte inconsciente que é ignorado por ele mesmo. Ele pode estar bem nas suas aparências, mas estar se acabando dentro dele mesmo. É uma lógica estranha e paradoxal por onde temos uma agressividade mal utilizada contra si mesmo e contra aqueles que o amam. São momentos de tremenda angústia e fragilidade para o sujeito, momentos em que ele não vê outra saída a não ser acabar com a própria vida.
                
As pesquisas psicanalíticas demonstram que, ao interromper prematuramente sua vida, o sujeito mata um outro dentro de si. Ele acaba indo junto sem querer. Quase sempre é alguém que ele ama muito em conflito. Trata-se de um gesto agressivo contra esse objeto de amor ambivalente que reside dentro dele. De que lugar da sua subjetividade se promove tamanha loucura? finaliza o Dr. José Nazar em seu profundo ensaio. O íntimo menosprezo que sinto por mim mesmo aumenta minha autocrítica. Quando a gente percebe a falta de sentido na vida, nota que não objetiva  nenhum progresso. A vida nasce com a morte ligada a ela.      
       

Freud nos responde dizendo que: uma das explicações para esse fato é que tais pessoas encontram mais satisfação na fantasia do que na realização do desejo. Assim, enquanto sonham, planejam, desejam, aspiram alguma realização, elas se mantêm afastadas de um conflito. Porém, quando a realidade aproxima a realização do desejo, surge uma série de fenômenos para defender sua fantasia. É uma forma também de manter o desejo em estado de insatisfação.

Um comentário:

  1. Bom trabalho, Thede.
    Judicioso, quase didático, na abordagem de um
    tema sensÍvel e presente no nosso cotidiano, embora só veladamente e com muito pudor debatido.

    Gostei da leitura. A História está repleta de exemplos dos que "fracassaram ao triunfar",
    embora muito pouco se fale deles. Afinal, são os vencedores que escrevem a História,
    mesmo quando ela é escrita na terceira pessoa.
    Rubens Pontes, por e-mail

    ResponderExcluir