FAMÍLIAS ENDIVIDADAS:
ARMADILHA DO CRÉDITO
“Crédito é igual a quinino; em pequenas quantidades, cura. Em grandes, mata”
Não é ser pessimista, mas os números do endividamento das famílias brasileiros é muito preocupante; é uma bomba-relógio. O total de endividados no país cresce 47% em dois anos, diz o Banco Central. O senador Mão Santo da tribuna do Senado denuncia os suicídios de velhinhos no Piauí por conta das dívidas consignadas em suas aposentadorias. Até 90 meses de prazo estão dando para se comprar automóveis. É uma loucura.
Quem mandou?
Atraídos pelo crédito farto e pelo incentivo do ex-presidente Lula para comprar mais e “ter o seu carrinho” e “comprem, comprem”hoje 47,8% dos brasileiros estão endividados, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Em Vitória/ES, por exemplo, estão tomando 187 carros por dia por prestações atrasadas. Muitos entregam o carro e ficam devendo 70% de seu valor.
Já o programa Minha Casa minha Vida, vejam como se parece com o esquema do Banco Nacional da Habitação (BNH), que foi criado pelo Regime Militar e que faliu. Foi um banco público voltado ao financiamento e à produção de empreendimentos imobiliários. O BNH foi criado em 1964 e tinha por função a realização de operações de crédito — sobretudo de crédito imobiliário —, bem como a gestão do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Era um banco de segunda linha, ou seja, não operava diretamente com o público, atuando por intermédio de bancos privados e/ou públicos, e de agentes promotores, tais como as companhias habitacionais e as companhias de água e esgoto. O banco foi extinto em 1986 e repassado à Caixa Econômica Federal, com um passivo monstruoso.
Com uma rapidez incrível, blocos e mais blocos estão sendo construídos, ficam prontos e os compradores não aparecem. As famílias estão gastando o que não pode pagar e estão construindo para quem não pode comprar...
Os consumidores brasileiros comprometem uma fatia maior de sua renda com dívidas do que os americanos, informa reportagem de Mariana Carneiro, publicada na Folha desta quarta-feira (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
Os brasileiros gastam hoje 22% do que ganham com o pagamento de empréstimos e outros tipos de financiamento, de acordo com o Banco Central. Os americanos comprometem cerca de 16% de sua renda com dívidas.
Nos Estados Unidos, o desemprego e a contração na oferta de crédito, efeitos da crise iniciada em 2008, fizeram o peso das dívidas no orçamento das famílias diminuir nos últimos anos. No Brasil, ocorreu o oposto. Fonte: Folha de São Paulo de 10/01/12
A respeito, informa a jornalista CAROLINA MATOS:
“Dados do Banco Central mostram que, nos últimos cinco anos, o número de brasileiros com dívidas superiores a R$ 5 mil, considerando todos os tipos de empréstimo, saltou de 10 milhões para 25,7 milhões.
“Dados do Banco Central mostram que, nos últimos cinco anos, o número de brasileiros com dívidas superiores a R$ 5 mil, considerando todos os tipos de empréstimo, saltou de 10 milhões para 25,7 milhões.
Mas esse total pode ser muito maior, já que não considera os cidadãos que não têm conta em banco -- cerca de metade da população.
Na avaliação da Serasa Experian, diante da falta de informações sobre o perfil das dívidas das famílias, e da capacidade de pagamento, o Brasil corre sério risco de enfrentar um cenário de superendividamento.
A preocupação é a seguinte: embora muitos dos consumidores que devem mais de R$ 5 mil possam ter esse valor dentro do seu limite de crédito, outros tantos já estão mais endividados do que poderiam e, portanto, com alta probabilidade de inadimplência”.
DÍVIDA X RENDA
Hoje, o volume de dívidas dos brasileiros corresponde a 39,1% da renda, de acordo com o Banco Central.
E uma parcela de 23,8% fica comprometida mensalmente com o pagamento dos débitos existentes. Sem detalhes sobre a qualidade das dívidas, esses percentuais já preocupam, na avaliação da Serasa.
Nos EUA, com juros muito baixos, 17% da renda fica comprometida com pagamento de débitos. E o volume de dívidas dos americanos chega a 128% da renda.
Lembrando que, tanto no Brasil quanto nos EUA, os números referentes a financiamento imobiliário entram nessa conta.
Mas, no mercado doméstico, esse tipo de crédito é só 3,5% do PIB. Já no americano, é mais de 100%. A Serasa aponta risco de superendividamento; 39% da renda no Brasil vão para dívidas
"CRISES INEVITÁVEIS"
Pedro Paulo Silveira, diretor da Gradual Investimentos, diz que as crises de crédito são "inevitáveis" no mundo todo, fazendo parte do "ciclo econômico capitalista".
"Quando a economia vai bem, ter uma dívida de R$ 1.000 pode não significar nada para um cidadão. Mas se a economia passa a ir mal e a pessoa perde o emprego, esse endividamento se torna um problema para ela", diz.
Mas Silveira acredita que o Brasil deva continuar crescendo a taxas elevadas nos próximos quatro anos, com aumento da classe média e possibilidade de expansão dos empréstimos.
O crédito pessoal para consumo disparou no país desde 2002. Passou de 5,1% do PIB (Produto Interno Bruto) naquele ano para 15,2% do PIB em agosto de 2010, ainda segundo dados do BC.
Com o aumento, esse segmento de empréstimos, que exclui o crédito imobiliário, já atinge nível próximo ao dos EUA, de 16,6% do PIB em agosto de 2010.
Com o aumento, esse segmento de empréstimos, que exclui o crédito imobiliário, já atinge nível próximo ao dos EUA, de 16,6% do PIB em agosto de 2010.
Alexandre Andrade, economista da Tendências Consultoria, também acredita que a expansão da renda dos brasileiros comporta o endividamento.
"Além do mais, os segmentos de crédito que mais têm crescido são os que oferecem as melhores garantias aos bancos em caso de inadimplência: financiamento de automóveis, imóveis e crédito consignado", diz.
"E é importante destacar que, no passado, carro e casa própria eram bens que apenas uma parcela reduzida da população tinha acesso", completa Andrade.
A dívida interna já passa dos R$ 1,4 trilões. E a previsão de pagamento de juros para 2008 é de R$ 180 bilhões. Os banqueiros nunca ganharam tanto na história do Brasil como nesse governo. Os bancos brasileiros são os que mais ganham dinheiro no mundo, porque o Brasil é o campeão mundial de juros. Por isso Olavo Setúbal, presidente do Itaú, dá nota 10 para o governo Lula..
Reflitam com esses números da reportagem da jornalista Juliana Rocha da Folha de São, em 22/06/08: “O volume de financiamentos consignados atingiu R$ 67,5. O financiamento, principalmente de automóveis, não é a única preocupação do BC em torno das operações de crédito de pessoas físicas. O alerta está aceso também para o aumento do endividamento das famílias”.
“Junto com a expansão do crédito no país, que já chegou a R$ 1 trilhão, cresce o número de clientes de banco com dívidas altas. O Sistema de Informações de Crédito do BC, conhecido pela sigla SCR, mostra que, em fevereiro deste ano, 15,6 milhões de pessoas tinham dívidas acima de R$ 5.000.
Na comparação com dezembro de 2005, quando eram 10,6 milhões os clientes de bancos com dívida maior de R$ 5.000, houve um crescimento de 47,17%. Em relação a junho do ano passado, quando 13,5 milhões estavam nessa situação, houve uma alta de 15,6%.
Os dados do Banco Central mostram que a dívida das pessoas físicas com os bancos somava R$ 442,4 bilhões em fevereiro deste ano, dos quais R$ 146 bilhões (33%) tinham prazo de vencimento em até 180 dias e R$ 74,7 bilhões (16,8%) venciam em até 360 dias.
Além dos 15,6 milhões de pessoas com dívidas acima de R$ 5.000, o SCR registra, sem detalhamento por operação, todos os financiamentos. Hoje, o universo de clientes com alguma dívida, mesmo que pequena, é de 80 milhões.
Os bancos e financeiras têm acesso a essas informações. O sistema do BC serve não só para a autoridade monetária acompanhar o risco do sistema de crédito, mas também para os bancos avaliarem o risco da concessão de empréstimos para clientes que têm operações em outras instituições.
Na média, cada cliente tem três dívidas diferentes. Ou seja, além de financiar a casa e o carro, a maioria das pessoas com dívidas altas faz outra operação de crédito, como o consignado, um empréstimo pessoal ou o uso do cheque especial e do rotativo do cartão de crédito.
Segundo o chefe do Departamento de Monitoramento do Sistema Financeiro e de Gestão da Informação do Banco Central, Cornélio Pimentel, a entidade não faz cruzamento do tamanho da dívida das famílias com o rendimento familiar médio. Mas ele afirma acreditar que o orçamento familiar disponível para pagar financiamentos está próximo do limite.
Mesmo sem o cruzamento com o rendimento familiar, chama a atenção o crescimento de 30,4% nos últimos 12 meses até fevereiro do uso do rotativo do cartão de crédito, ou seja, quando o consumidor não paga o valor total da fatura no mês. Essa modalidade de dívida, que atingiu volume de R$ 15,9 bilhões entre pessoas físicas, aparece em segundo lugar na lista de financiamentos com maior taxa de crescimento no último ano. Os juros do cartão de crédito, com os do cheque especial, são apontados como os mais altos do mercado e são usados por pessoas que não têm mais como pagar as dívidas.
As operações listadas no SCR mostram que, nos últimos 12 meses até fevereiro, houve crescimento de 24,1% no volume de financiamento de automóveis e de 25% do crédito para a compra da casa própria. O crédito consignado aparece em primeiro lugar, com 31,9%, no ranking dos empréstimos que mais crescem..
Pimentel afirma que 95% dos clientes cadastrados no SCR são adimplentes, ou seja, pagam em dia as suas obrigações. Mas é informação confidencial no Banco Central o risco apresentado pelos clientes em cada faixa de endividamento”, conclui a jornalista Juliana Rocha da Folha.
(*)Theodiano Bastos é escritor, autor dos livros: O Triunfo das Idéias, A Procura do Destino e coletâneas e é presidente da ONG CEPA – Círculo de Estudo, Pensamento e Ação, em Vitória – ES (www.proex.ufes.br/cepa).
Nenhum comentário:
Postar um comentário